segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vislumbre

 
eu fui ali no paraíso dar uma espiadinha
 
e nada de balões coloridos soltos no céu
nem flores cheirosas em tamanhos surreais
os sinos não dobravam a cada declaração de amor
e eu posso jurar que o ar cheirava à café
 
os pássaros cantavam ao amanhecer
parecendo felizes apesar das gaiolas
apesar do sol surgir de uma esquadria estranha
entre telhados, bem longe das montanhas
 
não havia o som das harpas, nem violinos
a música era a que a gente queria
e as melhores, saiam de improviso
quando ele toca e canta, sem saber a letra
 
o paraíso é um lugar itinerante
 
ora está num teatro, ora numa lanchonete
ora eu o vejo quando atravesso a rua
quando ele cuida da minha vida
 entrelaçando deliciosamente tua mão na minha
 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Vago

 
não é tão bela
a solitude
mesmo que poética
é solidão

um jardim ermo
um deserto sem vento
pétalas sem meio
folhas sem chão

ele sem ela
é apenas ele
um sujeito sem predicado
sem oração



terça-feira, 20 de maio de 2014

Beco

 
sem direito de pedir mais
quando a sede ainda me mata
é como saber onde fica o oásis
e andar na direção contrária
 
 


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Intervalos do cotidiano


 
então, ouça o que eu digo, ou não
 apenas gosto de te sentir por perto
rindo das minhas bobas conversas
em tão pequenos momentos
que serão como pílulas de alegria
para o resto do dia
 
à noite, o meu frasquinho já anda vazio
e como tem coisas que não se explicam
eu preciso tanto do teu colo
como as gatas precisam dos telhados


terça-feira, 13 de maio de 2014

Eternidade

 
se a vida passa, se gasta um pouco a cada dia
eu diria que morrer contigo é uma delícia
seria muito egoísmo querer cruzar a linha ao teu lado?
sei que um dia haveremos de nos despedir
mas desejo que entre o calar a voz
e o brilhar da luz doutro mundo
não dure mais do que um segundo
 
seria tempo demais, sem te respirar


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Ser e não ser

 
a luz não conhece a escuridão
é a sua antítese absoluta
onde uma está, a outra inexiste
porque o crepúsculo é só uma ilusão
é a nossa versão romântica dos fatos
nossa mera visão poética do adeus


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Aprendiz

 
não tem mais porquê andar calçada
cresceu e aprendeu como as meninas grandes faziam
ser malvada e ser amada, já não é mais ironia
é via, regra e cartilha, batizado 
só o que custa é o debute
depois acostuma-se a virar de lado
e o que bate não é o sono, é o vazio
 


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Contraluz

 
 
deixo-me ficar na contraluz
onde o véu se faz com as sombras
e assim, quase oculta, memorizo-te
 para que nunca me falte durante o dia