sábado, 31 de dezembro de 2016

Fiel


às vezes, quando você usa o rímel
os seus olhos se encontram no espelho
os da carne e os da alma
nesse momento, nada que seja exprimível

nenhuma palavra que seja deste mundo
um sentimento meio que confuso
o eu e o eu verdadeiro, mortal e imortal
um breve encontro, de propósito ignorado

um medo inexplicável, constrangimento
consciência do espaço usurpado
o dono legítimo mora silenciosamente
em todos os recantos do avesso

e transpassa todos os limites da matéria
invade suas verdades sem que pudor haja
te conhece mais do que se possa conjecturar
é mais insolente do que a água, é ar

Se, nesse pequeno encontro ao espelho
puder se demorar um pouco mais
sem razão, sem verbo, sem escudo
só você como testemunha de si mesmo

o seu fiel, o seu único e eterno
nesse instante mágico desperto
nessa fenda dos mundos que se abre
vem uma força louca que entorpece, beba-se!