domingo, 31 de janeiro de 2016

Nas mãos de outro alguém


 
falácias em tons de metáforas
para confundir sua leitura
e travar seus argumentos
 hesitar qualquer desfecho
te levar a crer em conjecturas
hipóteses vazias, apenas iscas
que te atam num frágil laço
que costuram o real ao falso
e te emaranham por mais tempo
e pelo tempo que durar o desejo
que não é o seu
 
 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Potes do mesmo barro


 dilacera-me não poder gritar ao mundo
mas não trago nenhum estandarte
e a minha verdade é apenas mais uma
 
eu vejo um mundo cheio de retalhos
cada pedaço enrolado em arame farpado
e tantos selos tapando seus olhos
 
é a marca da roupa que você usa
é a religião que você chama de sua
é o teu voto, teu sexo, tua paixão, tua cultura
 
rótulos e cercas, múmias
algemas sociais, cabrestos
almas segregadas, desprezo
 
queria gritar ao mundo
'ninguém pode ficar para trás'
deste teste, ou saímos todos, ou ninguém sai

Um

os homens se perdem
na busca da origem das suas vidas
quanto mais subatômicos chegam
mas o infinito lhes apresenta
uma nova e ínfima partícula
 
não existem réguas para medir o divino
mas no homem foi semeado o desejo
não por entretenimento dos anjos
que observam seus esforços
mas pelo crédito que lhes foi feito
 
filhos, pedras brutas a burilar
quanto mais polidos, mais perto do ninho
quanto menos adjetivos sombrios
a acompanhar seus nomes, seus legados
mais cristalinos são os seus olhos
 
mais fácil ver o que sempre foi óbvio
que o que faz ao próximo, faz a ti mesmo
porque aquilo que olhas no espelho
são apenas átomos aglomerados
assim como o próprio espelho
 
 assim como a parede por detrás dele
e o solo que te sustenta, o teto que te abriga
as árvores na esquina, os pássaros que te sobrevoam
matéria, nuvem de partículas, atração
o que nos difere é o nível de energia
 
somos todos um
 
 

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Monóculo

 
 
por fora transbordo mentiras
à noite tantas vozes eu silencio
noites em claro, dias sombrios
meus olhos já nem sequer marejam
mas o oceano bem poderia
ser uma lágrima minha
e o amor que eu sufoco
que no passado revisito
não porque era feliz
apenas por vício
 
o amor que eu deveria
com todas as forças ter vivido
o amor que quase tocou minha alma
que tão perto chegou de mim
mas caprichosa, escolhi o vazio
minhas escolhas, meus guias
meus frutos expostos sobre a mesa
que eu ignoro, finjo que não os vejo
e à esmo sigo meu caminho
teimando em colher o que não semeio
 
 
 


terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Centelha

 
de que é feita a matéria
senão de partículas de energia
tudo o que existe, inexiste
numa avaliação mais profunda
como pode a criação ser magnificente
e nada ser ao mesmo tempo
o estar vivo, neste instante, é divino
a liga invisível da matéria
que sem alma sequer é poeira