não é possível fingir indiferença diante de tanta luz
não foram os raios do sol, foram os vidros da minha consciência
que fragmentando em primas, caíram feito diamantes
em cascata, reverberando deus em todas as suas cores
um feixe de sabedoria atravessou minha ignorância
sorrio a minha alma e me levou de volta por um instante
pr'um jardim de cerejeiras brancas, traduzindo a paz
e provando a certeza do elo, que nunca se soltou
piedade para o homem que ainda não acordou
que caminha terrestre, lento com seus sacos pesados
que não troca de roupa, nem de pele, nem de memória
que vai no piloto automático, sem planejar seu vôo
piedade para o homem que anda sem rumo
que já não se lembra onde guardou o mapa
que no coração traz a bússola intacta
mas na vida aprendeu a confiar na lente quebrada
aquilo que vê, não é aquilo que é
mas os sonhos do menino, no fundo do saco, socou
para não ter de lidar com as evidências do destino
que ao controlar o menino, suas próprias asas arrancou