terça-feira, 29 de maio de 2018

Cinza

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por que você nunca vai além da sala?
eu poderia te ensinar o caminho
se notasse nesses seus olhos cinzentos
alguma faísca, mas você os petrifica

você é um tolo que não sabe onde por as mãos
 fica gelado e suado, imaginando frames
pensa que não noto seu olhar lascivo sobre mim
todas as cenas, ensaiadas, dobradas no seu bolso

tudo o que você precisa está em mim
sim, neste momento, depois não sei
o que importam as consequências
elas ainda sequer existem

você soterra seus desejos com medos
não vê que é assim que fica sem ar?
 há janelas e escotilhas em todo lado
o amor não precisa ser um labirinto

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Interlúdio


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Tem momentos que você está aqui do meu lado, eu observo seus movimentos sobre o contrabaixo, seu fone no ouvido como um escudo, seu olhar que me atravessa e me fatia em peças da decoração da sala. Apenas eu sei que ainda permaneço inteira, respeitando sua viagem entre os mundos. Eu sei como é isso, eu também preciso dessas passagens, tanto para trazer o aroma de lá pra cá, quanto para lá deixar as minhas preces. O que seria de mim se nunca tivesse encontrado essa fenda? Foi um poeta quem me apresentou ao interlúdio e eu, tão carente, quase fiquei lá para sempre. No começo um vício latente, euforia e sofreguidão, o ciclo completo até a abstinência...era alto o teor de pureza da poesia, uma covardia. Agora que sei andar entre as brumas, sei quando preciso ir, sei quando devo voltar, te vejo perdido em seus passos, querendo dominar sua música, feito um animal selvagem, queria te ajudar. Você está tão perto da sua própria face, atravesse.



quinta-feira, 17 de maio de 2018

Estigma

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eu falo com o meu silêncio
um diálogo estranho com os meus eus
uma parte de mim profana o desconhecido
debocha das regras, desafia o destino
a outra parte pondera, busca resguardo
entre crenças, ditos e riscos antigos
e o que fica preso ao pêndulo
no meio fio, nessa porra de média aritmética
é a única realidade que eu crio
que penso ser a melhor versão de mim mesma
pelo menos nesse momento, não tenho escolha
quando todas as estatísticas estão contra mim
e o estigma do meu estilo de vida
rabiscado na minha pele
e o meu cabelo, até mesmo as minhas unhas
jogando no tabuleiro com as minhas chances
tudo o que me é externo, aparências
falando mais alto que as minhas palavras
porque ninguém consegue ver o que sou por dentro
e não posso me virar do avesso
se tem conceito que já nasceu antes de mim