segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Amálgama

 
e então é só você querer
que eu quero também
é só você começar do seu jeito
que já não há razões para terminar tão cedo
você que faz um minuto se esticar até o infinito
que agita meu mundo e trança os solstícios
faz o que bem entender do meu tempo
ilumina as minhas noites como se fosse dia
me entorpe de saudade, mesmo quando estou contigo
você, quem me tempera tão bem com os teus beijos
quero tanto que você me queira, como te quero também

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Agosto

 
nada que me apague da lembrança, seu sorriso fácil
nada que me impeça de realizar essa travessia
e desaguar inteira nesse imenso oceano, sua boca
já não existem mais réguas para medir distâncias
teorias e conspirações, o mundo se esvaziou dos nãos
a ti apenas prometo encher de sins o nosso pequeno jardim
e que seja assim, como dantes sempre deveria


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O caos e o remo

 
você sabe até onde leva este caminho?
se arriscaria por um atalho embrumado?
o barqueiro se aventura, guiando-se pela margem
um horizonte perpendicular ao destino
atravessa os véus de névoas, tão geladas
sentindo medo, como se o espírito lhe fosse tirado
restando sobre o barco, apenas um homem e o seu propósito
 
atravessar
 
e atravessa tão facilmente, que parece que vai voltar
nada, além do fato da sua ausência, permanece imutável
os astros seguem sua rota milenar, os mares se agitam sob as gaivotas
a bruma se rasga entre os raios do sol, colorindo as flores antes desbotadas
o inverno cede o palco à primavera, a angústia rasa
 as lágrimas que secam rolam cristais para o oceano
e então eu sei que o barqueiro já não rema de volta
 


Enigmar: obscurecer o que por natureza é claro

 
desafio-te a despir-me desta capa de pele e gelo
e enxergar-me através daquilo que transpareço
desafio-te a decifrar meu código secreto, numa única charada
não aquele que vem impresso nos ácidos genéticos, o da alma

queria vê-lo debruçar-se sobre os meus rascunhos
inquieto, me procurando à esmo entre linhas e absurdos
me destramar, descosturando cada um dos meus passos
e nas pedras e nos tropeços, compreender os meus remendos

não me julgue pelo o que narra a contra capa
linhas do tempo são apenas fatos, retórica tola
nos movemos entre presente e passado pela ponte da saudade
a ordem exata dos sentimentos zomba de qualquer lógica

compreenda-me não por aquilo que vê
mas por aquilo que sente
é tão simples...