sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Bom dia amor!

 
não sei mais andar sem estar nas tuas mãos atada
não sei dormir sem que em segundos antes não te sinta
sem que minha boca se descole da tua
e que este seja meu último movimento lúcido
 
até que a luz rasgue as frestas da janela
e eu te procure, sôfrega de saudade
amanhecendo em você todos os meus beijos
 

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Véus

 
 
fomos um talvez
que teimou em resistir ao tempo
uma existência que
não teve razões para não ser
mas que mesmo assim
nunca se explicou claramente
fomos respostas de perguntas
que nem sequer foram feitas
a interpretação do que era amar
sob a ótica de um solitário poeta
fomos a química feita de almas
e somos o que resta de alguma lógica
sob os véus dos poemas
 


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Maremotos

 
você é um bom vinho que não me embriaga
que me adoça e me amarga sem medidas
que me sacia e outrora me faz faminta
como o vento instável, redemoinha-me
bagunça meu cabelo tanto quanto a lucidez
tira o chão sob meus pés, depois me alcança
e ao céu me devolve sempre sorrindo
acalmando minhas marés e os meus desatinos
 


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Mínima

 
dentro da caixa, outra vez
poesias rasgadas, pedaços de um talvez
um quebra-cabeças, em sigilo
s-a-u-d-a-d-e-s, só isso
 


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Entre os lapsos da tua e da minha existência

 
é assim que eu faço poesia sem rima
eu laço um rastro de perfume ao silêncio
uma dose de sentimento ao instante momento
e te toco profundo sem ao menos chegar perto
 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Nebulosas

 
foi assim que sempre quis
que você me amasse
como se a morte estivesse à espreita
e se fizesse urgente gastar cada segundo
dentro do céu das nossas bocas
lambendo as estrelas direto da fonte
 
 


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Silentes

 
o ardor e a palavra
queima e não fala
morre na língua, afogada
do doce ao fel, teimosia
risos sem eco num vale, esquecidos
só o vácuo e o silêncio
se fazem de fato companhia


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

À mão

 
pôs-se a dançar escondida
nela somente rendas e pedraria
e o encanto à mão esculpido
 
e a lua por trás das colinas
invejava sedenta sua libido
e sua nudez quase protegida
 
que a qualquer momento
se revelaria, fogo posto
crime contundente
 
apenas sutil, nada inocente 
que quanto mais umidade
muito mais se acende


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Um talvez lá no céu

 
 
hoje eu queria que tudo fosse mentira
que as fotos mais recentes fossem as mais antigas
queria me esconder do mundo nos teus braços
e ignorar cada segundo até fazer desaparecer o dia

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Portais nas varandas

 
você sabe quantas vezes
eu me postei na varanda
a conversar com as estrelas?
quantas perguntas eu lhes fiz
sentido o vento menos frio
que a ausência das respostas delas?
 
mas de alguma forma, aquele céu
aquela imensidão que me jurava
que a distância do oceano não era nada
mesmo em silêncio me confortava
mesmo na escuridão me iluminava
mesmo na solidão me acompanhava
 
e ontem na varanda da tua casa
me lembrei de mim mesma, ainda do outro lado
procurando sem foco, algum ponto no horizonte
sem saber qual rumo dar aos meus sonhos
e você chegou, me abraçou e sem saber
 me resgatou de outro continente no mesmo instante
 
 


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Movendo meridianos

 
o meu fascínio por ele confunde-me a lucidez
como uma névoa sobre os quatro sentidos
uma turbidez temporariamente infinita
que me abisma ao céu em cada beijo dele
 


segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Amálgama

 
e então é só você querer
que eu quero também
é só você começar do seu jeito
que já não há razões para terminar tão cedo
você que faz um minuto se esticar até o infinito
que agita meu mundo e trança os solstícios
faz o que bem entender do meu tempo
ilumina as minhas noites como se fosse dia
me entorpe de saudade, mesmo quando estou contigo
você, quem me tempera tão bem com os teus beijos
quero tanto que você me queira, como te quero também

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Agosto

 
nada que me apague da lembrança, seu sorriso fácil
nada que me impeça de realizar essa travessia
e desaguar inteira nesse imenso oceano, sua boca
já não existem mais réguas para medir distâncias
teorias e conspirações, o mundo se esvaziou dos nãos
a ti apenas prometo encher de sins o nosso pequeno jardim
e que seja assim, como dantes sempre deveria


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O caos e o remo

 
você sabe até onde leva este caminho?
se arriscaria por um atalho embrumado?
o barqueiro se aventura, guiando-se pela margem
um horizonte perpendicular ao destino
atravessa os véus de névoas, tão geladas
sentindo medo, como se o espírito lhe fosse tirado
restando sobre o barco, apenas um homem e o seu propósito
 
atravessar
 
e atravessa tão facilmente, que parece que vai voltar
nada, além do fato da sua ausência, permanece imutável
os astros seguem sua rota milenar, os mares se agitam sob as gaivotas
a bruma se rasga entre os raios do sol, colorindo as flores antes desbotadas
o inverno cede o palco à primavera, a angústia rasa
 as lágrimas que secam rolam cristais para o oceano
e então eu sei que o barqueiro já não rema de volta
 


Enigmar: obscurecer o que por natureza é claro

 
desafio-te a despir-me desta capa de pele e gelo
e enxergar-me através daquilo que transpareço
desafio-te a decifrar meu código secreto, numa única charada
não aquele que vem impresso nos ácidos genéticos, o da alma

queria vê-lo debruçar-se sobre os meus rascunhos
inquieto, me procurando à esmo entre linhas e absurdos
me destramar, descosturando cada um dos meus passos
e nas pedras e nos tropeços, compreender os meus remendos

não me julgue pelo o que narra a contra capa
linhas do tempo são apenas fatos, retórica tola
nos movemos entre presente e passado pela ponte da saudade
a ordem exata dos sentimentos zomba de qualquer lógica

compreenda-me não por aquilo que vê
mas por aquilo que sente
é tão simples...

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Pôr-do-amor

 
 
nunca saberei se as minhas palavras chegarão mesmo até você
 
se tiro delas os enfeites para voarem mais levemente
 
o vento fez assim com o sol e inventou os vagalumes
 
encontrarão elas onde se pôr no teu peito, oeste meu?



quarta-feira, 30 de julho de 2014

Subscrito


Há lugares em você
Que eu não vou
Com medo de lá
Não me encontrar
Mas há outros em que sei
Que sou eu quem reina só
Como o sol pela manhã
E a lua ao escurecer
Há lugares em você
Que são somente meus

Mercenária



Vendo cartas de amor
Algumas em bom estado
Outras muito gastas
 
Em estilo contemporâneo
Palavras doces e ácidas
Rimas e versos sinuosos
 
Pois que não tinham endereço
Julguei-as minhas, mas podem ser tuas
Se quiseres correr o risco de tal encantamento

Vendo por um bom preço
O lote inteiro, até o que pensei ser rascunhos
Por nada mais que um dia de sossego

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ida


não há por certo, um destino no amor
nem garantias nenhumas
é mais que uma pedra lançada ao mar
para saber até onde afunda
é mais que um dedo em riste no céu
para conhecer a direção dos ventos
não há palpite, mas há palpitações
truques de magia e levitação
beijos a qualquer hora do dia
parágrafos infinitos, ditos ou não
 instantâneos multicoloridos
dos nossos mais belos sonhos
há música feita de sorrisos
e tambores que anunciam
a presença um no outro
é uma receita de improvisos
criando o mais doce imprevisto, nós
é um bilhete sem hora de partida
nem nada escrito no 'para:'
só os assentos vem marcados
e o meu está ao seu lado
vamos?



terça-feira, 22 de julho de 2014

Em poucas palavras

 
 
eu diria que as palavras não me bastariam
que se pudesse, rasgaria todos os verbos
para te conjugar em deliciosos predicados

que somos sujeitos singulares com pressa do plural
 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sobre o tempo

 
eu vou e eu volto
te procurando em mim
constantemente
 
vivo num intervalo
sem nenhum sentido
num espaço nunca preenchido
 
um curto adeus pela manhã
me embala numa dança com a eternidade
me despindo do teu cheiro, me vestindo de saudade
 

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Cofre

 
 
você mantém teus segredos inconfessos
à sete chaves de muitos cadeados
a verdadeira matéria da tua essência
em três pontos finais, lacrados
dando-lhes a alcunha de reticências
por esquivo poético e não por acaso
 
 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Relevos

 
uma pausa no cotidiano
para um pouso em mim mesma
tomando ciência da minha existência
me vejo refletida no vidro da janela
confundindo dimensões, dentro e fora
junto-me ao jardim, sem sair do prédio
junto-me ao mundo, sem sair de mim
 
 

terça-feira, 24 de junho de 2014

Um quase-nada


 
sabe, eu antes dormia mais cedo
e acordava quando você ainda dormia
eu começava a preparar o jantar
enquanto você ainda almoçava
não era só um fuso que nos distanciava
nem mesmo era culpa do atlântico
era muito mais do que um oceano
eram as nossas vidas sem entrelaces
descosturadas, destramadas
éramos duas histórias derriçadas
precisando da manha de um grande poeta
da astúcia de um bom arquiteto
da poção de uma velha feiticeira
eu sinto que naquela noite
que num triz nos conhecemos
algo aconteceu lá no céu primeiro
depois se fez eco sobre a terra
colocando nossos nomes nos mesmos versos
 nossos pés da mesma linha
e as nossas almas na mesma cela
  
 
 

Febris


 
se fosse só uma febre passageira
que ardesse meus conceitos e certezas
mas é uma enfermidade perene
destas que a razão se auto-sabota
encontrando em cada evento
sinais para seguir em frente

é quase uma teimosia, um capricho irresistível
uma força magnética, algo que nos contagia
sem esperança de um prognóstico favorável
é febre, insônia, fome e sede
e um pouco mais de nós mesmos, a todo tempo
é só uma medida profilática de pouco efeito

 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

O antes do depois

 
nem é a chama
quem consome o vento
é ele quem se atira
consumindo a si mesmo
seduzido por um desejo
que lhe é irresistível


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Acasos

 
eu te encontrei num acaso, sem querer
guardei tuas fotos para me lembrar
não sabia que haveria outra noite assim
 
quando os olhos faíscam e os lábios sorriem
mesmo quando se quer evitar
nos trapaça o desejo, que nos faz cair
 
os olhos e os lábios se ligam feito ímãs
e de novo, o pecado parece tão certo
fazendo rir até os querubins



segunda-feira, 16 de junho de 2014

Cantiga

o que será que eu faço de errado
se toda vez que penso estar ao teu lado
esbarro num espinho repentino?

de onde vem tanto desamor
por que insiste o cravo em despedaçar a rosa
se ferido também acaba?

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Feito à mão

 
não segui receita
segui intuição e desejo
e o hálito do vinho
 
não usei moldes
desenhei com os dedos
colando detalhes com saliva
 
fiz o que queria
e customizei seu coração
à minha medida
 


terça-feira, 10 de junho de 2014

Cuidado

 

beijar na boca pode causar arritmia
 
vício, alucinações e devaneios
 
cio e rubores sorrateiros
 
causar dependência química, física e espiritual
 
por isso, recomenda-se apenas 3 mil doses diárias
 
menos do que isso, é exagero!
 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Metamorfose

 
pousei onde mais cabia
não sei fui levada pela vida
ou atraída pelo aroma do teu jardim
que em dois a tristeza dividia
 
hoje o habito, ato o nó ao laço
fundindo o acaso ao destino
 tornando ainda mais belo
o que do infinito irradia 


segunda-feira, 2 de junho de 2014

Leste

 
eu quero você
meu leste, minha calmaria
seus ventos que me alisam e me arrepiam
desejos que me assustam e me impelem
versos controversos que me viciam


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Vislumbre

 
eu fui ali no paraíso dar uma espiadinha
 
e nada de balões coloridos soltos no céu
nem flores cheirosas em tamanhos surreais
os sinos não dobravam a cada declaração de amor
e eu posso jurar que o ar cheirava à café
 
os pássaros cantavam ao amanhecer
parecendo felizes apesar das gaiolas
apesar do sol surgir de uma esquadria estranha
entre telhados, bem longe das montanhas
 
não havia o som das harpas, nem violinos
a música era a que a gente queria
e as melhores, saiam de improviso
quando ele toca e canta, sem saber a letra
 
o paraíso é um lugar itinerante
 
ora está num teatro, ora numa lanchonete
ora eu o vejo quando atravesso a rua
quando ele cuida da minha vida
 entrelaçando deliciosamente tua mão na minha
 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Vago

 
não é tão bela
a solitude
mesmo que poética
é solidão

um jardim ermo
um deserto sem vento
pétalas sem meio
folhas sem chão

ele sem ela
é apenas ele
um sujeito sem predicado
sem oração



terça-feira, 20 de maio de 2014

Beco

 
sem direito de pedir mais
quando a sede ainda me mata
é como saber onde fica o oásis
e andar na direção contrária
 
 


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Intervalos do cotidiano


 
então, ouça o que eu digo, ou não
 apenas gosto de te sentir por perto
rindo das minhas bobas conversas
em tão pequenos momentos
que serão como pílulas de alegria
para o resto do dia
 
à noite, o meu frasquinho já anda vazio
e como tem coisas que não se explicam
eu preciso tanto do teu colo
como as gatas precisam dos telhados


terça-feira, 13 de maio de 2014

Eternidade

 
se a vida passa, se gasta um pouco a cada dia
eu diria que morrer contigo é uma delícia
seria muito egoísmo querer cruzar a linha ao teu lado?
sei que um dia haveremos de nos despedir
mas desejo que entre o calar a voz
e o brilhar da luz doutro mundo
não dure mais do que um segundo
 
seria tempo demais, sem te respirar


segunda-feira, 12 de maio de 2014

Ser e não ser

 
a luz não conhece a escuridão
é a sua antítese absoluta
onde uma está, a outra inexiste
porque o crepúsculo é só uma ilusão
é a nossa versão romântica dos fatos
nossa mera visão poética do adeus


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Aprendiz

 
não tem mais porquê andar calçada
cresceu e aprendeu como as meninas grandes faziam
ser malvada e ser amada, já não é mais ironia
é via, regra e cartilha, batizado 
só o que custa é o debute
depois acostuma-se a virar de lado
e o que bate não é o sono, é o vazio
 


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Contraluz

 
 
deixo-me ficar na contraluz
onde o véu se faz com as sombras
e assim, quase oculta, memorizo-te
 para que nunca me falte durante o dia

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Vagalumes


busca-se autenticidade no silêncio
porque se sabe, instintivamente
que o barulho ofusca os pensamentos
tal como os faróis confundem os olhos

busca-se serenidade no balanço do mar
como se em cada onda quebrada
acendesse um lume que vaga
dispersando a lua em mil arandelas

busca-se um fim no começo
paz no amor, o presente no laço
busca-se a si mesmo, fora de si
como se a vida se passasse num espelho

Maga

 
eu pego carona no vento
sigo os aromas frutados
que destilado o álcool
viram doses de essência

e com elas me banho
ou me embriago
depende da sede, da vida
 da pretensão do momento
sortilégio e efeito

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Fruta

 
é vontade de estar junto
de grudar e melar
é fogo que sobe pela pele
malucando os pensamentos
aguando a língua
amolecendo recatos
tão desnecessários
quando a fruta surge
entre a mordida e a fome
 
 


terça-feira, 15 de abril de 2014

Paradoxo

 
 sopra-me
não vês que me ofereço?
sopra-me
todas as vezes que me aquecer
sabes o que faz em mim
esse teu sopro gélido?

de certo que não me arrefece...


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Prisma

 
o amor faz o mundo ficar tão pequeno
uma mão cheia de beijos
faz mais ondas em mim
que um oceano inteiro


terça-feira, 8 de abril de 2014

Babel

 
faço do teu abraço meu abrigo
da tua boca os meus livros de poesia
que são escritos em tantas línguas
quanto a imaginação invente

 

sexta-feira, 28 de março de 2014

Mel

 
ele nem sabe que é dono
de tudo o que é meu
 
e de todos os 'meus'
 o mel é o que mais lhe pertence
 

Cobiça

 
você não sabe o que me significa
o que eu vejo para além da tua imagem
parece que te trespasso
 
e no silêncio dos meus olhos
quantos desenhos eu te faço!
enquanto a inocência se enche de pecado

sexta-feira, 21 de março de 2014